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PAOLA CHARRY SIERRA

"Nutrindo-se com a Comunidade"


"Sabemos que o mundo físico imediato, determina, constrói e dá sentido as relações que se estabelecem entre as pessoas. No entanto, não basta só saber, trata-se de iniciar processos, desenhar estratégias e construir caminhos para ter espaços de um bem estar progressivo cada vez maior.

A intervenção que a Plantando Paz na Terra, na região da Vila Brandina em Campinas, nos coloca, a cada passo, novos e delicados desafios. É necessário explorar imaginários, discursos e mensagens que circulam entre os cidadãos locais. Fazer inteligível o lugar e cenário presentes, onde atuamos, para continuar potencializando a transformação dos mesmos.

É inegável que a construção de métodos e formas de intervenção supõe uma relação diferente de diálogo horizontal e de reconhecimento dos saberes, onde aqueles que são considerados como atores sociais menos articulados, tenham a possibilidade de expressar as formas particulares de entender seu mundo e seu cotidiano. Nas nossas conversas com pessoas ou grupos locais, vê-se que todos tem um discurso sobre qual deve ser a sociedade ideal ou qual é a organização de bairro adequada ou qual a utilização dessa área verde pública que estamos requalificando.

Assim, nos situamos, após estes três meses de execução do projeto Nutrindo-se com a Comunidade, além da evidência do papel dos grupos locais para preservação dos recursos naturais. Agora nos perguntamos, deveríamos nos perguntar, qual é a representação simbólica deste território? Existe uma memória social da comunidade com relação a esta área? Qual é o valor da horta para esta comunidade?

A horta poderia ser um banco para a comunidade, uma geladeira? Sua maior especialidade, as formas de manejo? Embora, o projeto Nutrindo-se com a Comunidade, focaliza na planta como alimento, sabemos que suas propriedades são inúmeras além das medicinais (sociais, ambientais, como materiais para construção, como combustíveis, cosméticas, ornamentais, ritualísticas e etc), o que revela múltiplas possibilidades de uso, lembrando, que as grandes culturas domesticaram plantas.

Enquanto este novo desenho se descortina, alguns pontos sensíveis dão a pauta dos desafios que se seguem: a confiança que teremos um produto saudável; a capacidade de gerir problemas de relacionamento locais; a proteção da horta sem isolá-la; a mágica relação de interação íntima da cozinha com a horta; a introdução dos conceitos da economia solidária e a cuidadosa construção da saúde integral através do alimento.

Uma coisa é certa, esta horta, constitui, para nossa tarefa nesta área (implantação de um centro de convivência e aprendizado em prol da ecologia e da cidadania) um espaço desencadeador de significados para a população local. Por um lado, manejamos na construção deste espaço, o componente do nosso ideal (a cosmovisão) e por outro lado, o componente material inovador no local (o manejo agro-ecológico). A horta começa a ser um espaço de socialização e reprodução de novos conhecimentos, além de ser um símbolo de resistência cultural, econômica e política.

Vamos percebendo que um habitat antes natural, depois de degradado, agora converte-se em um habitat cultural...mesmo que nossa meta seja ir além e tocar um dia o transcultural...."

Paola Charry Sierra-2006

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